FAB confirma colisão com fio e, sem caixa-preta, vai analisar geolocalização; veja

Equipe do Cenipa foi deslocada do Rio de Janeiro para ponto da tragédia em Minas; não há prazo para terminar investigação

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Brasília, Caratinga (MG) e Porto Alegre

Uma equipe do Cenipa, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, começou neste sábado o trabalho de apuração das causas do acidente que matou a cantora Marília Mendonça, de 26 anos.

Segundo o tenente-coronel aviador Oziel Silveira, chefe do Terceiro Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, o Seripa 3, órgão regional do Cenipa, o avião que caiu em Piedade da Caratinga, em Minas Gerais, nesta sexta, não tinha caixa-preta. Silveira comanda a operação.

Equipe do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) trabalha no local do acidente de Marília Mendonça neste sábado (6)
Equipe do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) trabalha no local do acidente de Marília Mendonça neste sábado (6) - Cenipa/Divulgação

De acordo com ele, não há registros de choque da aeronave contra árvores. Na tarde deste sábado, o tenente-coronel disse ainda que a colisão do bimotor com um fio de uma torre de alta tensão será analisada.

"Se isso é fator contribuinte, vai ser à frente estudado e analisado", disse Silveira sobre possíveis causas para a queda do avião, entre elas o choque com os cabos da Cemig, a empresa distribuidora de energia de Minas Gerais

No acidente, além de Marília Mendonça, morreram mais quatro pessoas —o produtor da cantora, Henrique Ribeiro, e o tio dela, Abicieli Silveira Dias Filho, além do piloto Geraldo Martins de Medeiros Júnior e o copiloto Tarciso Pessoa Viana.

O Cenipa —órgão da FAB, a Força Áerea Brasileira— também não precisou em quanto tempo o relatório final com as conclusões das análises deve ficar pronto. "Nosso trabalho é achar evidências. Então isso vai ser analisado em outro momento, não hoje", disse Silveira.

Embora o tipo de avião envolvido na tragédia não requeria a caixa-preta, foi localizado o equipamento de geolocalização, que dá coordenadas de onde a aeronave pode ter passado, mas não foi feita nenhuma análise ainda.

O Cenipa deslocou investigadores do Rio de Janeiro na manhã deste sábado até a cidade vizinha a Caratinga, onde a cantora faria um show na noite desta sexta. Os investigadores chegaram ao local por volta das 6h deste sábado. Mais cedo, no local do acidente, Silveira disse que os trabalhos eram iniciais.

"O nosso objetivo hoje é cumprir a ação inicial, levantar e buscar todas as evidências possíveis para, após, fazermos as análises e estudos para tentarmos identificar os fatores contribuintes que levaram à ocorrência", afirmou Silveira. Ele ainda diz que a nova investigação mira a prevenção. "Não buscamos nem culpados nem responsabilidade, mas agir na prevenção de modo a não ocorrer mais", disse.

A Cemig confirmou em nota nesta sexta que o bimotor atingiu um cabo de uma torre de distribuição da companhia na cidade a 309 quilômetros de Belo Horizonte. Neste sábado, a companhia afirmou que a torre "está fora da zona de proteção do aeródromo de Caratinga, nos termos de portaria específica do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), do Comando da Aeronáutica Brasileira".

A empresa afirmou ainda que "segue rigorosamente as normas técnicas brasileiras e a regulamentação em vigor em todos os seus projetos". "As investigações das autoridades competentes irão esclarecer as causas do acidente. A companhia novamente lamenta esse trágico incidente e se solidariza com parentes e amigos das vítimas."

Em nota, nesta sexta, o Cenipa já havia afirmado que a equipe do Rio de Janeiro daria início aos trabalhos neste sábado. "Na ação inicial os investigadores identificam indícios, fotografam cenas, retiram partes da aeronave para análise, ouvem relatos de testemunhas, reúnem documentos etc. Não existe um tempo previsto para essa atividade ocorrer, dependendo sempre da complexidade da ocorrência", afirmou a Aeronáutica, em nota.

Com a investigação, o Cenipa busca evitar novos acidentes com características semelhantes, segundo a nota. "A conclusão das investigações terá o menor prazo possível, dependendo sempre da complexidade de cada ocorrência e, ainda, da necessidade de descobrir os fatores contribuintes."

O delegado regional de Caratinga, Ivan Sales, afirmou que a Polícia Civil concluiu a perícia que competia ao órgão.

Essa perícia é parte do inquérito instaurado para apurar responsabilidades criminais pela tragédia. Começa, então, uma nova etapa, que incluiu depoimentos de testemunhas e levantamento da documentação sobre a aeronave e a empresa proprietária.

Foi também realizada e concluída a perícia nos corpos das cinco vítimas da tragédia.

De acordo com a Anac, a Agência Nacional de Aviação Civil, o bimotor foi fabricado em 1984. Era um modelo C90A, com matrícula PT-ONJ, de propriedade da PEC Táxi Aéreo, de Goiânia, onde vivia Marília Mendonça.

Segundo a Anac, o avião estava com o CVA, Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade, válido até 1º de julho de 2022.​

A Anac já havia recebido uma denúncia anônima sobre as condições do avião que levava Marília Mendonça. O órgão de regulação da aviação civil afirmou à reportagem que um suposto aquecimento dos para-brisas do avião de matrícula PT-ONJ, o mesmo que transportava Marília Mendonça, foi rejeitado, após ter sido constatado que a peça havia sido trocada.

"O resultado da apuração foi comunicado pela Anac ao MPF-GO [Ministério Público Federal em Goiás], em 21 de junho, seis dias após o recebimento da manifestação do MPF-GO, e, após pedido de complementação pelo órgão, a agência também se manifestou na data de 22 de julho", afirmou a Anac, em nota.

O local do acidente que matou a cantora Marília Mendonça, uma serra em Piedade de Caratinga virou ponto de visitação para a população local na manhã deste sábado. Pelo menos uma centena de curiosos lotava uma trilha íngreme que cruza a BR-474, percorrendo um dos caminhos que dava acesso ao local.

Fãs de Marília Mendonça já estão na porta do ginásio Goiânia Arena, ao lado do estádio Serra Dourado, para se despedir da cantora. O velório de Mendonça, morta aos 26 anos nesta sexta-feira, em um trágico acidente de avião, ficou aberto ao público até as 16h, na capital goiana.

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